Dólar alto quase sempre aumenta inflação; por que não acontece isso agora?
quarta, 13 de maio de 2020
Mal chegamos à metade do ano, e o dólar já acumula valorização superior a 40% ante o real, pulando de R$ 4,00 para perto de R$ 5,90 em menos de cinco meses. Mas diferentemente do que normalmente ocorreu no Brasil, a alta da moeda americana dessa vez não se transformou em inflação mais elevada no país. Ao contrário, os índices de preços estão até desacelerando. Então o que aconteceu? Afinal, como regra geral, a inflação no Brasil sempre subiu puxada pelo dólar mais caro. Isso porque muitos produtos consumidos aqui chegam do exterior - do trigo do pãozinho ao automóvel importado, passando por eletrodomésticos. E mesmo itens made in Brazil, como a carne ou o petróleo, têm suas cotações definidas no mercado internacional, portanto em dólar.
Segundo economistas, as necessários medidas de isolamento social para conter o novo coronavírus jogaram a economia em uma recessão. E, com menos clientes comprando, o empresário não consegue repassar o aumento de custos.
“A relação direta entre dólar e inflação não mudou. O que acontece agora é que não existe renda. A gente teve um abismo de demanda. Então o empresário não consegue repassar preços. O que existe é um aumento de preços represado.”
O professor de finanças do Ibmec-SP Daniel Carrasqueira de Morais destaca que, além de não haver como empurrar repasse de preços porque o consumidor está sem dinheiro, os empresários ainda têm estoques com produtos que foram importados com um dólar mais baixo. "Houve uma apreciação muito rápida do dólar este ano. E os últimos lotes de produtos e insumos que estão abastecendo o consumo ainda são de estoques feitos com dólar mais baixo. Esses estoques não foram consumidos porque a demanda está sendo muito menor que a esperada por causa da covid-19", afirma Morais.
O consumo baixo é neste momento o principal motivo dessa nova relação entre dólar alto e inflação baixa no Brasil, mas não o único, dizem economistas. Eles destacam que desde 2015 os agentes econômicos - empresários, instituições financeiras, investidores e consumidores - passaram a acreditar mais no poder do Banco Central para controlar a inflação.
“Bem ou mal, os governos recentes assumiram políticas econômicas baseadas no controle de gastos, em que as despesas públicas não são financiadas por mais emissão de moeda.”
De fato, as projeções feitas pelo mercado para os próximos anos mostram uma inflação dentro das metas do Banco Central, assim como juros mais baixos. Por isso, é menor a possibilidade de que alguém aceite pagar mais por um produto se o reajuste pedido ficar fora do que é o esperado para os índices de preços. Veja abaixo alguns indicadores econômicos.
Profissionais de mercado dizem que o dólar pode até ceder um pouco, mas não deve mais voltar à casa de R$ 4. A incerteza sobre a economia global ainda faz com que muitos investidores continuem procurando a moeda americana como porto seguro.
“O dólar vem se apreciando ante outras moedas no mundo e não é apenas ante o real. Então, o dólar vai continuar em alta independentemente do que fizermos aqui. Até porque os Estados Unidos devem sair da crise antes de outros países.”
Os economistas alertam que a inflação pode voltar a ser alimentada pelo dólar, assim que a economia se aquecer novamente. "O repasse cambial para a inflação no Brasil é um dos mais altos da América Latina, estimado entre 6% a 8%, ou seja para cada 10% de desvalorização do real, há um aumento de 0,6 a 0,8 ponto percentual no IPCA em até 12 meses", afirma a economista e estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte.
FONTE: João José Oliveira do UOL, em São Paulo 13/05/2020 04h00 SAIBA MAIS EM : https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/05/13/dolar-alto-e-inflacao-quieta-e-novo-normal-por-enquanto-dizem-economistas.htmGaleria de Fotos